quarta-feira, 3 de março de 2010

Respeite o idoso (?)

Estão circulando, nesta cidade do Salvador, Estado da Bahia, alguns ônibus que trazem na faixa luminosa que anuncia o roteiro, a frase: "RESPEITE O IDOSO".

Mas são as mesmas empresas de transporte público que publicam esta frase nos letreiros e seus funcionários que "DESrespeitam o idoso".

Anteontem, 02.03.2010, por volta das 14h50min eu ia à Avenida Sete de Setembro, ao Trecho do Relógio de São Pedro. Como o trânsito no centro da cidade está cada dia pior e não se encontra uma vaga para estacionar um carro, seja em garagens e estacionamentos pagos ou na Zona Azul, optei por ir de ônibus.

Tomei o ônibus "SELETIVO" de nº 3365 da Empresa Rio Vermelho, no ponto que fica em frente ao Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória.

Confesso que, embora nunca tenha tido qualquer problema com a minha idade - assunto que mulher não gosta muito de falar - como "sessentei" recentemente, ainda não incorporei o hábito de reivindicar certos direitos inerentes à pessoa idosa, principalmente aqueles garantidos no Estatuto do Idoso, entre eles a gratuidade de passagem em transportes coletivos urbanos.

E é de acordo com esses hábitos já arraigados por anos e anos de comportamento, que quando tenho que usar o transporte público, antes de sair de casa, para não dar colher de chá a ladrão, já ponho em cada bolso o valor da passagem de ida e de volta. Assim não tenho que abrir bolsa dentro dos ônibus e se algum larápio por a mão no meu bolso, só vai conseguir levar o valor de uma passagem, já que a passagem, a de ida, eu entrego ao cobrador logo que entro no veículo.

Desta forma, desde que completei sessenta anos em janeiro, até hoje ainda não fui de graça a lugar nenhum, pois quando me lembro que já sou uma pessoa idosa e tenho direito à gratuidade da passagem, já paguei a tarifa do ônibus.

E foi o que aconteceu na terça-feira, 02 de março: Entrei no ônibus, já com o dinheiro na mão, paguei a passagem e me sentei.

Como me sentei na poltrona da frente perto do motorista, num determinado momento perguntei-lhe:

- "A empresa de ônibus considera a idade de 60 ou de 65 anos para conceder a gratuidade ao idoso?"

O motorista respondeu:

- "Aqui, a pessoa pode ter 90 anos que não tem passagem de graça. Eu nem paro o carro se um "velho" der sinal. A Empresa não vai dar colher de chá para "velho" viajar de graça em ar condicionado. Este ônibus é Seletivo, só entra que pode pagar.E os colegas dos ônibus comuns só param se fôr em horário de pouco movimento e se o veículo for mais antigo. Em carro novo e na hora do rush, não tem condição de encher os ônibus de "velhos" e deixar de faturar com passageiros que pagam as suas passagens."

Então eu disse a este motorista.

- "O senhor está medindo a extensão da quantidade de besteiras que está falando? Primeiro, que o senhor vai ficar "velho" um dia. "Idoso" mesmo, acho que o senhor não ficará, porque uma pessoa que pensa, fala e age como o senhor não merecerá nunca o carinho e a consideração que uma PESSOA IDOSA merece da sociedade. Segundo, o senhor e a Empresa (se for realmente esta a orientação que ela passa aos seus funcionários) desconhecem totalmente o que seja respeito ao ser humano, ao Estatuto do Idoso e aos Direitos Humanos e eu fico muito espantada de ver que, em pleno Século XXI, ainda existam funcionários e Empresas que sejam capazes de tamanha falta de respeito e discriminação com quem, de uma forma ou de outra, contribuiu para a construção do seu país e até do emprego que o senhor tem e do lucro que a Empresa aufere".

Aí nesse momento ele começou a querer consertar o que disse, afirmando que não falou por mal, que foi só uma maneira de dizer como são as ordens que recebe e tem que cumprir, etc, etc, etc.

E eu repliquei:

- "Meu amigo, o problema não é a ordem que o senhor tenha recebido, mas a forma como o senhor se expressa. Isto comprova que o discurso é um e a prática é outra: Pouca valia há no fato das Empresas mandarem publicar nos letreiros dos seus ônibus a frase "RESPEITE O IDOSO", se os seus funcionários não são suficientemente educados para agir de acordo com o que está escrito no veículo que ele conduz. É necessário um trabalho de educação social, desde a infância para que as pessoas internalizem em seu comportamento atitudes que não precisariam de Lei para obrigá-las a ter. Devemos sim, não só reconhecer os direitos da pessoa idosa, como também respeitá-la e tratá-la com a dignidade a que ela tem direito, não só por ser uma pessoa idosa, mas por ser um SER HUMANO como todos nós, que, inclusive, como o senhor, gostaria de ser tratado em todos os momentos da sua vida."

E o que me causou espanto, também, foi o fato de uma moça que estava sentada no banco junto comigo, afirmar que não entendeu que a forma como o motorista estava falando sobre os Idosos e o modo como os trata, tivesse sido discriminatória e que achava que tanto o motorista quanto as Empresas de ônibus estavam corretos em agir assim, porque precisavam "ter lucro".

Aí eu nem discuti, pedi para parar o ônibus no ponto que fica na altura das Mercês e completei o meu trajeto a pé. Acho que assim ganhei mais: fiz um pouco de exercício físico e não me aborreci.

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