domingo, 6 de março de 2011

Diário de carnaval 04.03.2011

Sexta-feira 04.03.2011

Fui com Zezé a Vitória da Conquista fazer algumas compras. Itambé continua na dependência das cidades vizinhas - Itapetinga e Vitória da Conquista - Mamãe ficou com Rosana. Saimos por volta das 9:00h e retornamos às 15:00.

O fato de Itambé ser sempre uma cidade com este estado de subdesenvolvimento é um tema que deveria ser discutido com os gestores desta cidade e buscada uma solução.

É incompreensível que tendo por base uma economia baseada historicamente na pecuária, as autoridades municipais,  não busquem diversificar  e impulsionar o desenvolvimento do município.

Em toda a minha vida (61 anos) constato que todos os prefeitos e boa parte dos vereadores desta cidade, ao final dos seus mandatos não apresentam realizações que gerem empregos ou projetos que possibilitem empresas investirem e se fixarem no municipio. As obras realizadas são pontuais e nem o básico é feito com a qualidade desejável.

Como vou ficar com mamãe sozinha no feriado de carnaval e tendo pouca vivência na cidade, fiz uma caminhada de reconhecimento a fim de me instrumentalizar para alguma eventualidade e constatei que não temos serviço de transporte coletivo, de táxi e de saúde em regime de plantão (a Santa Casa funciona, mas não souberam informar se haveria médico de plantão e qual a especialidade); em relação à segurança pública,  fiquei alarmada: passei às16:30h na Delegacia de Policia e esta, além do prédio se encontrar em péssimo estado de conservação, estava fechada. Perguntei a pessoas na rua e não souberam informar se neste feriado haverá  policiais na cidade, se darão plantão e qual o horário de serviço, também ninguém sabe informar se existe algum telefone para entrar em contato com a polícia em caso de emergência.

Telefone de serviço da prefeitura, de algum secretário ou mesmo do prefeito, nem pensar. Fui informada que o prefeito não reside na cidade.

Assim, se houver alguma necessidade de acesso a assistência médica, terei que recorrer a amigos e conhecidos que possuam veículo para efetuar o transporte e provavelmente terei que me deslocar para Vitoria da Conquista ou Itapetinga. Se o caso for de segurança pública não teremos a quem recorrer: nem polícia, nem poder público.

Aqui em casa temos grade de ferro com cadeados em todas as portas e janelas.

Resta-me orar para que tudo corra bem nestes dias.

Zezé viajou às 23:00h. O horário de trabalho de Rosana é das 7.30 às 16:00h, portanto estou sozinha com a mamãe em casa.

Diario de carnaval 03.03.2011

Quinta-feira, 03 de março de 2011

Arrumaçãode malas. Pedi a Rosana - a nossa empregada doméstica - para lavar as roupas usadas que trouxe de Porto Seguro.

Iníciei a "aclimatação" com a minha mãe. Isto é necessário pois ela ficou bastante tempo na companhia de Fátima, a irmã do meio, com o genro e os netos; há 01 ano está com Zezé e Rosana e eu, pelo fato de residir em Salvador, venho esporadicamente e fico alguns  dias, de forma que, até com a empregada ela tem mais intimidade do que comigo e com os meus filhos.

Há quem não preste atenção e não creia nestes pequenos detalhes, mas se para uma pessoa comum a convivência com pessoas diversas, mesmo sendo da família é difícil, imagine para uma pessoa idosa.

As mudanças no universo de pessoas idosas geram inseguranças que nós não conseguimos imaginar e compreender, daí que quando combinei com Zezé que eu viria ficar aqui em casa no carnaval para ela ir passear, me programei para vir alguns dias antes da viagem para que a mamãe não se ressentisse de uma mudança brusca.

Diário de carnaval

Quarta-feira, 02 de março de 2011

Após passar uma semana em Porto Seguro na companhia de Marilene e Heraldo - estes dois são irmãos e meus amigos - cheguei a Itambé para ficar tomando conta da minha mãe enquanto a minha irmã Zezé vai passar o carnaval em Olivença (praia perto de Ilhéus).

domingo, 9 de janeiro de 2011

Somente Cinqüenta e um



Estive esta semana em Itambé. A cidade continua na mesmice de sempre, entretanto há uma novidade que algumas pessoas comentaram comigo em tom de piada, mas que aconteceu mesmo e evitou um assalto à Agência do Banco do Brasil.

Na delegacia local está lotado um policial apelidado de “Cinqüenta e um”.

Contaram-me que alguns homens, suspeitos de fazer parte de uma quadrilha que vem assaltando bancos em cidades da Bahia (Monte Santo, Queimadas, Senhor do Bonfim e Feira de Santana) neste início de ano, chegaram a Itambé planejando assaltar a única Agência Bancária da cidade.

Com o objetivo de sondar as possibilidades pararam num bar perto do local utilizado como ponto de ônibus intermunicipal (a cidade não tem Estação Rodoviária), pediram uma cerveja e “puxaram assunto” (no dizer do dono do bar). Conversa vai, conversa vem, um deles perguntou:

- Onde fica a Delegacia?

O dono do bar informou.

Nova pergunta:

- Quantos policiais ficam de plantão lá?

Resposta do dono do bar:

- Somente Cinqüenta e um.

Comentário do assaltante:

“Vamos embora pessoal, aqui não vai dar. Se só na delegacia tem 51 policiais de plantão, no resto da cidade deve ter um policial atrás de cada poste”.

Entraram no carro e seguiram viagem pela estrada BA 415 em direção a Vitória da Conquista.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Movimento pela Paz: Nossas reações como reflexos condicionados

 
Chega o fim do ano e, como acontece há 13 anos, no dia 19 de dezembro, na Praça do Campo Grande,  Divaldo Franco coordenou mais um evento de encerramento da campanha anual que realiza em diversos bairros de Salvador, e também em algumas cidades do Brasil e do interior da Bahia, denominada Movimento pela Paz .

É um trabalho de construção de uma cultura de Paz;  um momento em que se reflete sobre o significado da Paz para a sociedade moderna, na qual os índices de violência chegaram a tal ponto que vivemos encarcerados em nossas casas, com portas e janelas de grades de ferro trancadas a cadeado e circuito internos de TV gravando tudo as 24h do dia.

Se vivemos em prédios de apartamentos, estabelecemos tantas “regras de segurança” que chegamos ao cúmulo de não permitir nem que o mensageiro da farmácia adentre as áreas internas do condomínio para entregar os medicamentos comprados por telefone.

Não nos relacionamos com os vizinhos. Quando muito balbuciamos somente um seco “Bom dia” nos elevadores e depois baixamos a cabeça porque não temos nada para conversar com quem, objetivamente, não conhecemos, ou seja, é nosso vizinho, mora ao nosso lado, mas não o conhecemos, não sabemos quem é.

Se saímos de carro, são portas travadas, vidros fechados, ar condicionado ligado e nem olhamos para o lado. Se algum motorista comete qualquer deslize ao volante já é motivo do outro abrir o vidro do seu veículo e proferir palavras de ofensa ao outro.

Até que, no trânsito, não muito “barbeira”, mas se eventualmente acontece um deslize; para estes casos procedo com calma. Quando sou xingada, abro o meu vidro, olho nos olhos do outro motorista ,candidamente esboço um sorriso e digo: “Tudo bem? E a família, como está? Mande lembranças”. Na maioria das vezes eles olham para mim e ficam na dúvida, se eu os conheço ou se sou louca mesmo.

Mas a coisa complica é quando saímos a pé para ir à academia fazer ginástica, à padaria da esquina ou ao mercadinho do bairro. Aí, qualquer transeunte é um “assaltante em potencial”. Simplesmente não olhamos para ninguém, não cumprimentamos ninguém e entramos em pânico a qualquer movimento em nossa direção. Por este motivo, desenvolvemos comportamentos e reações  de medo, tão automáticos  e incontroláveis que beira  o ridículo.

Às vezes eu me questiono de que vale tanta leitura, tanto curso, tanta participação em seminários, palestras, terapias, etc se cada vez mais nos tornamos inseguros.

Não que eu faça apologia à falta de cuidado consigo mesmo e com a família. Mas eu me pergunto se algumas de nossas atitudes não estão muito mais incentivando a violência e a agressão e deixamos de ter atitudes que realmente promovam a paz.

Eu poderia relatar aqui “N” casos acontecidos comigo por conta da minha militância no movimento espírita e das minhas “ex” (bancária) e atual profissão (assistente social), já que ambas, são atividades de risco.

Porém, quero refletir somente no fato de ontem: Nesta época do ano, é período do encerramento das atividades do Movimento pela Paz, do natal e das festas do ano novo e ficamos todos – ou quase todos - envolvidos numa atmosfera e numa psicosfera de solidariedade que nos deixa como que de “espírito mais desarmado”.

E foi assim que ontem, 30 de dezembro, por volta das 16h00 saí a pé do prédio onde resido para ir ao salão de beleza. É perto, mas tem que atravessar a rua e andar uns 200 metros. Pus um pouco de dinheiro, um cartão de crédito, o “inseparável” celular numa bolsinha e lá vou eu. Não andei 50 metros e fui abordada por um homem negro de mais ou menos 50 anos, que me perguntou: “Senhora, sabe se aqui nesta rua tem algum prédio que precise de um funcionário? Pego qualquer serviço”.

No momento da sua abordagem, enquanto o homem falava, automaticamente, recuei um passo, segurei a bolsa e devo ter feito alguma expressão no rosto que o levou a me dizer: “Não se assuste. Não vou assaltá-la. Eu estou procurando trabalho”. E começou a chorar.

Disse-me que viera do interior – de Itabuna – procurar trabalho, porque lá não consegue uma colocação no mercado. Que estava morando de favor na casa de uma senhora no Bairro do Cabula, mas que não poderia ficar muito tempo porque a senhora é pobre e não tem como acolher mais uma pessoa em sua casa e que, naquele momento estava com fome, porque saíra pela manhã para procurar trabalho e não conseguira. Que fora à Rede de supermercado G. Barbosa, mas que precisou de um documento que custava R$ 6,50 para pagar a taxa e que não dispondo dessa quantia perdera a oportunidade.

Diante desse quadro e com a sensibilidade que a minha idade e experiência de vida já me possibilitou acumular, pude avaliar que se tratava de uma pessoa de bem, apenas desesperada. Mas, como a regra geral de comportamento social, nestas situações, nos ensina a ser prudentes, não abri a bolsa, preferi levá-lo na padaria, providenciei um lanche e a quantia que ele disse precisar para pagar a taxa do documento e mais o dinheiro do transporte, despedi-me e fui embora.

Como recomendava Santo Agostinho, tenho por hábito todas as noites, antes de dormir, fazer uma revisão do dia que se passou. Avaliar as minhas atitudes, ver o que não foi realizado conforme os ensinamentos de Jesus e fazer as mudanças de rumo necessárias.

No caso que ora trato, constatei que fui preconceituosa e agi conforme o senso comum: "se a pessoa é negra, a probabilidade de ser assaltante é maior" e fui quase indiferente ao seu problema: procurei resolver a necessidade mais imediata, sem me aprofundar na questão central.

Hoje, pela manhã, fui à Federação Espírita Baiana (FEEB) participar de um momento de meditação pela paz com base no livro Reflexões sobre a Paz, ditado por Roberto Assagioli (espírito) psicografado por Ruth Brasil Mesquita (psicóloga e militante do movimento espírita baiano) e, mais uma vez, o caso do homem de ontem me veio à memória e fiz uma nova avaliação do meu comportamento: em que medida eu agi corretamente ou não.

Daí porque retornando ao meu blog depois de muito tempo quero abrir com as pessoas que me seguem e com os amigos uma discussão para o ano de 2011:

"O que significa a palavra Paz para nós?"

“Por que falamos tanto em Paz e não somos capazes de praticar a não-violência sob toda e qualquer forma?”

De que forma podemos nos afastar dos condicionamentos que a sociedade nos impõe e nos transformamos em potência e em construtores da Paz?

Feliz 2011

Angélica


domingo, 12 de dezembro de 2010

Estou voltando...

Diminuindo  o ritmo frenético de trabalho deste ano e já pensando nas famosas "resoluções de fim de ano" estou me (com)prometendo a retornar ao meu blog em 2011.

Angelica

sábado, 10 de julho de 2010

Uma promessa de retorno

Tem uns bons meses que não escrevo nada neste blog.

Andei viajando e quando voltei tem muita coisa para atualizar, muitos afazeres a por em dia.

No periodo da viagem, apesar do corre-corre para um lado e para o outro conhecendo alguns países do "Velho Mundo", ainda consegui  ler o livro O pensamento de Che Guevara escrito por Michael Lowi e iniciei a leitura de Os mortos permancem jovens   - autora Anna Seghers. Este acho que vai demorar um pouco, pois além de ter 635 páginas de uma letrinha miuda que se fosse no tamanho normal daria bem o dobro, já iniciei a leitura de O 18 Brumario de Napoleão Bonaparte, escrito por Karl Marx, que faz parte da bibliografia do nosso grupo de estudos na UFBA e tem mais uma pilhazinha de livros tecnicos ali do lado  olhando para mim (rsrsrsr), mas reafirmo o meu propósito de continuar pesquisando sobre os temas da vida e da morte, se não no mesmo ritmo de antes, pelo menos sem abandonar o projeto.